domingo, 17 de maio de 2009

Clair de Lune


Cap. 1.

Cada coisa em seu lugar.


É manhã de janeiro. O sol de verão cria uma moldura pra esse começo de história. O vento toca o rosto de Luiza delicadamente. Como trilha sonora, o canto de canários inicia o dia. ‘Mais um dia, mais um dia’, pensou calmamente.


Luiza Divina da Luz era uma moça de vinte e poucos anos. Dona de lindos fios ruivos lisos e compridos, magra, olhos grandes e quebrados. Tinha a personalidade de um leão. Era forte, decidida, e capaz de levar qualquer homem a loucura com seu atípico jeito de pensar. Pisciana das mais típicas, era sentimental, amorosa e amava em demasia, mas quando queria, era ríspida, egoísta e frívola. Ela poderia cuidar de todo o mundo entre o desjejum e o almoço. Sempre fez questão de mostrar a todos que poderia viver sua vida alheia. Tinha uma capacidade absurda de absorver a falta de diálogo com as pessoas que não a interessavam. Quem era de seu agrado, ela travava boas horas de conversa.

Gostava de imaginar a mulher e a menina que guardava dentro de si vivendo harmoniosamente, queria ser mulher e menina quando o tempo e a circunstância pedissem. Chorava frustradamente quando não conseguia ser verdadeira com as duas Luiza’s que guardava dentro de si. “Eu sou uma mentira, eu sou uma mentira”, engolia o grito e deixava escorrer as lágrimas secas pelo rosto molhado. Mas sempre que podia dava um jeitinho de botar as duas frente a frente, ela sempre aprenderá algo com elas.


Chegou tardizinha na Praça da Rua 12, perto de sua casa. Ela precisava de tempo para si mesma, para seus pensamentos mais secretos e para colocar em ordem a vida e o mundo que carregava dentro do peito. Onde ela morava era comum ter praças com bastantes mães e crianças, cachorros e muitos garotos jogando futebol no campinho perto da escola primaria ‘Tia Lê Lê’. Ela adorava passar horas a fio relendo ao ar livre seus livros favoritos. “Os mais belos se mostram mais belos num por de sol” dizia com um sorriso estampado de orelha a orelha. Num desses dias ensolarados e cheios de linhas já conhecias, Luiza, que andava no mundo da lua, conheceu o que mais tarde chamaria de ‘minha vida’.

Cap. 2.

A primeira grande trombada na Praça da Rua 12



Num dado momento ela deixou de lado seu ‘Cem anos de solidão’ e prestou atenção nos transeuntes daquela tarde. Era comum ver sempre o mesmo tipo de pessoa e com a mesma expressão no rosto, afinal de contas, aquela pracinha era frenquentada diariamente pela pobre e imunda classe média. Especificamente por conta de um grande temporal a vista, naquela tarde todos andavam ávidos e impiedoso. Iam de um lado para o outro, corriam, falavam ao telefone e se preocupavam demasiadamente com o tempo perdido. Não muito longe, ela avistou um rapaz.


Deveria beirar os vinte e oito anos, talvez vinte e seis, era conservado e bastante bonito. Tinha a pele morena, era alto, corpo esguio e formoso, olhos pequenos e amendoados e sorriso envolvente. Flutuava na calçada já gasta pelo tempo e pelas adversidades da vida. Tinha uma leveza e ao mesmo tempo uma firmeza no caminhar que chamou a atenção de Luiza. Ele parecia ser forte como um touro, era daqueles homens que conseguia carregar o mundo todo nas costas. Talvez seja por isso que ela tenha se identificado tanto com o moreno de passadas longas.

Ela olhou fixamente pra seu rosto, admirou-se com tamanha capacidade de se divertir sozinho. Sorria e gesticulava sem medo de ser taxado como uma pessoa insana. Ela prestou atenção na reação dele quando um guri de uns seis anos passou correndo por debaixo de suas pernas. Ele ria encabulado com a desenvoltura do pequeno.


Ele percebendo os olhares insinuantes de Luiza a fitou por um breve momento. Ela agindo instintivamente desviou o olhar. Ele abaixou a cabeça e continuou a andar. Foi andando para longe da pracinha, e de suas vistas. Ela ainda tentou curvar-se no banco para ver por mais alguns momentos o rapaz, mais ele foi até onde suas vistas já não o alcançavam mais.

Luiza ainda atordoada com o acontecido olhou para o céu. A cara de chuva pesada pairava o dia, o cheiro de terra molhada nessa época do ano já não era tão intenso, mas a sensação de alma lavada depois de trovejadas e muita água eram os mesmos. No verão os temporais vêm para castigar as almas pouco avisadas. Ela, regente do signo de peixes, era fã de água, e logo, dos temporais. Avistando logo acima uma nuvem teimosa e adirlosa, ela preparou seu guarda-chuva colorido e foi embora.




continua ...



Mayara Aguiar

2 comentários:

munstersplace disse...

Enfim você postou isso aqui!
tô me achando muito luiza , cara ;o

infla-ego disse...

A Luiza é a minha primeira personagem eu consigo perceber sinais de humanidade. Ela consegue transpassar o que realmente sente. É bom saber que possam existir pessoas assim. Mesmo que elas sejam personagem de um conto qualquer.
É bom saber que pessoas normais consigam se identificar com ela. ;D