segunda-feira, 7 de julho de 2008

1,2,3... gravando

Trilogia do filme independente “Boca do lixo”, filmado em Santo Antônio do Descoberto, lança em 2009 o terceiro filme da série


Em uma cidade desconhecida, dois policiais passam seus dias. Hudson, constantemente, foge dos telefonemas da esposa para continuar suas aventuras sexuais e Fábio vive procurando uma namorada. Acostumados com a calmaria da cidade, os policiais são chamados para investigar o assassinato de uma professora. A confusão começa quando eles descobrem que uma repórter do jornal local se juntou com uma estranha e decidiram desenterrar o corpo da professora em busca de um segredo. O filme independente “Boca do lixo”, é o final de uma trilogia do cineasta Frank Joseph, 31 anos. Toda a série foi filmada em Santo Antônio do Descoberto, Goiás.
A idéia do roteiro surgiu após a frustração de Frank nunca terminar o longa “Vigilantes”. “Nós até gravamos o filme, que ficou em mais ou menos 60 minutos, mas ficou extremamente confuso e, pela qualidade muito ruim, e também achando que ninguém entenderia, pensei em gravar uma série”, explica o diretor. Ele conta que a idéia inicial era gravar uma série em seis capítulos de 20 minutos cada e colocar na internet. “Após a repercussão do primeiro capítulo mostrado para convidados, um dos atores decidiu que depois da reação positiva do público era melhor que fizéssemos um longa. Daí nasceu o Boca ”, comenta.
O primeiro filme da série “Boca do lixo” é um curta com vinte minutos de duração. É o começo da saga de Hudson e Fábio, os policiais discrepantes na personalidade, mas ligados pelo mistério de um assassinato. O segundo é um longa-metragem, nele os personagens principais se vêem mais envoltos na tentativa de resolver o assassinato da professora. Os policiais ainda não encontram o paradeiro do verdadeiro assassino. A situação piora quando a polícia federal resolve enviar o agente Carlos Alberto para desvendar o assassinato da filha de um juiz local. Os policiais se vêem em meio a uma teia de conspiração e reviravoltas. É uma trama com muito suspense e ação.
As gravações do terceiro estão um pouco complicadas, segundo Joseph. Ele diz que o roteiro está bem mais complexo e cheio de detalhes para gravar. “Agora eu inventei uma guerra civil na história. Quem ouve, acha que sou muito ingênuo ou cara-de-pau demais”, brinca Frank. Ele diz que outro fator contribuinte para o atraso do lançamento do filme é o horário dele ser diferente do restante do elenco. “Estou com a agenda complicada. Trabalho durante o dia, não só eu, todos os atores também. Estou tentando gravar as cenas mais tranqüilas pra deixar as mais difíceis pra mais tarde”, explica.
O que cresceu significante foi o número de atores e figurantes. O primeiro contou com 15 participações, no segundo subiu para 53 e para o terceiro e último estão previstas 100 pessoas. O filme não recebe apoio financeiro, exceto do próprio diretor e dos atores. “Três dos atores entraram como produtores, ou seja, eles compram algo ali alugam outra coisa aqui. O filme é feito do nosso suor”, afirma. “Como estamos sem grana pro terceiro filme, estamos vendendo o DVD duplo do filme “Boca do lixo 2: revelações” a R$10”, diz.
Dayana Loiola, 21 anos, interpreta Gisely. “Eu sou a Gisely, uma mocinha que parece não ser tão mocinha. Na verdade, não dá pra definir se ela é mocinha ou vilã, parece estar sempre tentando ser boazinha”, manifesta. Ela conta como conheceu Frank e como foi convidada para fazer o longa. “Foi através de uma amiga, ela me apresentou ao Frank. Depois ele me convidou pra ser contra-regra de uma peça dele e após isso pra fazer uma ponta no filme”, diz. “Minha personagem só ia aparecer uma vez, mas aí ele gostou e aumentou o papel. Gisely acabou ganhando espaço e cresceu. Engraçado que eu nem iria ter nome e hoje virei protagonista”, afirma. Ela conta que é a protagonista de uma forma interessante. “Não sou aparição, mas sim por relevância. Sou a peça chave na história”, brinca Dayana.
A atriz comenta sobre as dificuldades de se fazer um filme independente no Brasil e da vontade de expansão do cinema brasileiro “Acho que vontade de crescer todos tem, mas falta apoio à cultura. Mesmo os filmes que são bem produzidos não têm o espaço devido, tanto pelo preconceito que o povo brasileiro tem contra os filmes daqui, quanto pelo domínio dos clichês americanos”, manifesta. Ela diz que a cena cinematográfica brasiliense é muito boa, repleta de bons profissionais e festivais que incentivam cada vez mais novos cineastas. “Em Brasília existem muitos profissionais excelentes que exibem suas obras em festivais que acontecem uma vez ao ano na cidade. Isso é muito importante pro cinema brasileiro”, completa.
As copias do segundo filme podem ser adquiridas nas locadoras de Santo Antônio, com o diretor do filme ou então na loja Kingdom Comics no Conic. O preço é de 10R$$ sendo que o DVD é duplo (primeiro CD com o filme e o segundo com 30 minutos de extras).
Cinema da boca
A “Boca do Lixo”, atualmente a “Cracolândia”, é uma região da área central da cidade de São Paulo marcada pela violência e pelo tráfico. Na década de 70, a área abrigou um dos maiores pólos de produção cinematográfica do país. Por lá, passaram nomes atualmente consagrados como, por exemplo, Vera Fisher, José Mojica, o Zé do caixão, Rogerio Sganzerla e Júlio Bressane, entre outros.
A boca pode ser considerada o berço do cinema marginal, os filmes marginais, ligados à boca, eram sempre permeados de muita sexualidade e escracho. Na década de 1980 o teor sexual se tornou mais presente, se tornando assim conhecida como a fase da pornochancada. A boca foi responsável por mais de 700 títulos nesta época.
Para terminar, uma entrevista
Frank, quais são seus próximos projetos?
Agora eu estou participando da série “em xeque”, assino a direção com alguns amigos e também atuo. Agora estou querendo virar um diretor sério, já que o boca e o em xeque tem gente que não leva a sério. risos.
Estou querendo fazer um documentário político sobre os pré-candidatos a prefeito aqui da cidade.
Pra que fazer arte?
Além da paixão arrebatadora pela arte de fazer filmes? Pode parecer um modo ingênuo de falar, mas anteriormente achava que poderia mudar o mundo.
Porque filme? E não, música, poesia ou um livro.
A idéia de escrever um livro parecia algo limitado. Na verdade não é, mas parece que não vai chegar a um grande público como os filmes fazem. Eu gosto de contar historias, e ver as pessoas se comoverem com isso assim como eu me comovo. Nada melhor que um filme pra se contar histórias e chegar a um público maior
Diria que teu projeto de vida é a arte?
Tocar os corações, eu gosto disso, como eu disse, parece infantil, mas depois desses anos todos e depois de tantas críticas e nenhuma ajuda, eu não desisti. Então é o meu futuro e não tenho mais dúvidas disso.
Matéria feita para o jornal "Na prática" .
Mayara Aguiar